quarta-feira, 4 de março de 2015

A Diferença entre Voar no Brasil e nos EUA


Você já sentiu vergonha alheia? Então leia…

Temos uma reflexão para você: imagine-se por um instante sendo um oficial graduado da Força Aérea Brasileira.

Depois de décadas de dedicação à Força Aérea, cruzando o país de norte à sul, sujeito as circunstâncias da vida militar; mudando de um lugar para o outro com sua família; sabendo que sua escolha o retirou do mercado de trabalho civil (onde poderia estar ganhando mais dinheiro), e foi submetido a uma longa série de disputas com companheiros de Força, que hoje o colocaram, pelos seus méritos, numa posição de decisão na hierarquia na qual entrou há 20 ou 30 anos.

Responsáveis pela organização do espaço aéreo brasileiro, francamente, devem ter sentido muito mal estar ao assistir esse vídeo: 



Quando aviadores brasileiros assistem esse vídeo, os mais variados sentimentos são inspirados.

A primeira coisa que se sente é raiva. Raiva por tentar compreender o porquê do nosso país ter parado no tempo. Escutar Richard Collins demonstrando pessoalmente o funcionamento do sistema de alocação de slots para aeroportos congestionados nos Estados Unidos, ou pior, funcionando de uma maneira óbvia (baseado em sistemas eletrônicos simples), gera uma raiva quase incontrolável àqueles que como nós, pilotos e proprietários de aeronaves da aviação geral perdem tempo em Salas AIS e telefone, por todo país, preenchendo planos e notificações de voo que não servem para nada (além de alimentar um sistema burocrático inútil). Ainda se tratando dos slots, temos ainda àqueles que se aproveitam das falhas nos processos de alocação de slots para tentar ganhar dinheiro com isso. Quem usa o sistema sabe muito bem das dificuldades.

O segundo sentimento é de frustração. Quem foi responsável por esse atraso injustificável a que a nossa aviação está submetida? Quem foram as autoridades que, ao longo desses anos, traíram seus companheiros de asa, criando e alimentando um sistema estúpido de serviços de controle de tráfego aéreo que é: caro, ineficiente e inseguro? Por que diabos nascemos e voamos num país que não conseguiu organizar seu espaço aéreo de maneira a prestar serviços dignos aos contribuintes que pagam fortunas para receber maus serviços em troca? Os traidores violaram, com estupidez, a falta de vontade, cultura de desperdício, e ainda aquilo que alimenta a aviação: a camaradagem e a vontade que todos têm de simplesmente, colocar aeronaves para voar em segurança, de maneira amistosa, tranquila e agradável, com as coisas simplesmente tem que ser.

O terceiro sentimento é de vergonha. Imagine-se na pele de aviador argentino, uruguaio, paraguaio, norte-americano, alemão, tentando voar por aqui... Preencher papéis irrelevantes, tentar falar com salas AIS entupidas de gente, papelada e procedimentos inúteis. Escutar instruções, muitas vezes contraditórias, dependendo com quem está falando. Não importa se num controle de área, num centro de controle, numa torre ou numa sala AIS. Imaginar (e lembrar) quantas vezes controladores de voo perguntam aos pilotos todas as informações que foram colocadas nos tais planos obrigatórios, mesmo aqueles realizados sob VFR em espaço aéreo GOLF!

Raiva, frustração e vergonha; é o que devem sentir os oficiais da Força Aérea Brasileira que estão agora na reserva (ou na ativa). Poderiam ter influenciado (ou estar trabalhando verdadeiramente) para mudar totalmente o nível de prestação de serviços que é prestado aos usuários contribuintes. Esses três sentimentos também deveriam surgir na consciência dos civis que trabalham na ANAC ou na SAC, que tem plena condição de tomar medidas óbvias, que voltem a dar decência aos serviços públicos que são prestados aos brasileiros.

Qualquer um com consciência (e mínima noção) do que significa acordar cedo para trabalhar e entregar um trabalho bem feito à quem paga seus proventos, sentiria isso ao assistir esse (e muitas outras dezenas) de vídeos públicos na Internet, que mostram ser perfeitamente possível voar em segurança, em espaços aéreos congestionados (muito mais do que o brasileiro), sem toda essa burocracia, sem taxas exorbitantes (o que não se traduz em segurança), e recebendo serviços decentes que, acima de tudo, passam a impressão de que somos todos bem-vindos em seus espaços aéreos.

No final das contas é essa a conclusão que se pode tirar: quem responde pela aviação brasileira não pode estar vendo usuários com bons olhos. Desconectaram-se do compromisso de atender as necessidades de quem banca o sistema, com impostos absurdos e taxas ridículas, oferecendo serviços minimamente razoáveis. Uma vergonha!

Fonte: APPA

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Também tenho um sentimento de que tudo poderia ser mais eficiente e seguro. Muitas regras confusas, margem para interpretação deste ou daquele operador, enfim, são pequenos detalhes que poderiam fazer nossa aviação fluir como deveria ser. O senhor tem acesso ao sistema americano? Proponho um comparativo, um piloto realizando um voo no Brasil e outro nos EUA. Desde seu planejamento, necessidade ou não de plano de voo, etc. Acredito que está nas mãos dos pilotos exigirem mudanças efetivas na regulamentação de voo.

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  2. Ivan, boa tarde!
    Agradeço o seu feedback a respeito do post e gostaria de informá-lo que o texto é um repost da APPA (Associação de Pilotos e Proprierátios de Aeronaves). Também concordo que um comparativo mais detalhado sobre as principais diferenças entre os espaços aéreos brasileiro e americano seria de grande valia para que, juntos com as atutoridades responsáveis, possamos buscar soluções e melhorias para a nossa aviação. Mas para isso precisamos da força das Associações de Pilotos, como a ABRAPHE e APPA, precisamos sugerir essa mudança, e creio que já estão trabalhando em cima!

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